A neuropsicóloga
Edyclaudia Gomes de Sousa, em entrevista
fala sobre a importância do espaço terapêutico para o atendimento a
pacientes e seus familiares que convivem com a doença.
Outubro Rosa é uma campanha mundial em favor do
combate ao câncer de mama. A neuropsicóloga,Edyclaudia Gomes de Sousa, conta um pouco sobre a contribuição da
Psicologia no tratamento deste e dos demais tipos de câncer. “O espaço psicoterapêutico
se mostra, tanto para os pacientes como para seus familiares, como um espaço
acolhedor para desabafar sobre estas angústias e encontrar modos de produzir
vida em meio à situação de adoecimento”, revela a especialista.
Segundo dados do Instituto Nacional de
Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres,
depois do câncer de pele não melanoma. A incidência de casos antes dos 35 anos
é rara, porém acima desta idade tende a crescer progressivamente, especialmente
após os 50 anos.
Iniciativas como
a de iluminar monumentos, teatros, pontes e prédios públicos de rosa são
estratégias de ações para a divulgação da campanha que visa
a conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do
diagnóstico precoce da doença.
Confira abaixo a entrevista com Edyclaudia, que é especialista em saúde
mental e responde questões importantes, trazendo
informações sobre o tratamento ao câncer de mama, e dando detalhes sobre o
atendimento psicológico e as situações que quem luta contra o câncer passa.
1-Como a
Psicologia atua para levantar a autoestima da mulher que precisa fazer a
mastectomia? E a mastectomia é um procedimento que torna o câncer da mama
“diferente” dos demais?
Primeiramente é preciso lembrar que, mais do que
levantar a autoestima, é importante escutar. O Outubro Rosa trata da prevenção,
é uma campanha coletiva, para conscientizar todas nós sobre o cuidado. Mas na
clínica, o importante é cuidar da mulher como um todo, ela traz sua experiência
única e o foco é ela inteira, não a mama.
A
mastectomia é um processo de retirada cirúrgica de parte do corpo, é um
acontecimento muito relevante e muitas vezes extremamente sofrido. A imagem
corporal pode ser sim afetada e é fundamental que toda dor e todo medo sejam
acolhidos e trabalhados. Só não gosto de nomear este sofrimento – ou mesmo achar
que haverá um intenso sofrimento – sem antes escutar o que a mulher traz.
Muitas vezes a cirurgia vem acompanhada de um alívio pela retirada do tumor;
tantas vezes a questão é menos da autoimagem e mais da dor pós-cirúrgica que
impossibilita algumas atividades – e então a parceria do fisioterapeuta é
fundamental.
2- Como
não estamos falando apenas sobre o câncer de mama (que é raro entre homens, mas
existe), quem mais demanda atendimento psicológico: mulheres ou homens?
3-E como
é este atendimento?
Como psicóloga, realizo atendimentos individuais e
familiares em consultório e acolhimento qualificado na sala de quimioterapia,
me comunicando com os pacientes e seus familiares quando estão recebendo a
medicação. Os atendimentos acontecem a partir da pedido dos pacientes e dos
familiares. A frequência depende de cada caso. Há casos de terapias breves, de
apoio, para momentos de maior dificuldade e há também aqueles que demandam
atendimentos semanais ou quinzenais.
4- O atendimento psicológico
acontece também depois do tratamento?
A demanda parte do paciente e muitas vezes eles me
procuram, sim, ao final do tratamento. Para muitos, esse é o momento em que se
sentem e se mostram mais fragilizados, visto que buscaram ser firmes durante
todo o tratamento de quimioterapia e radioterapia. E só então, após tudo
terminado, permitem-se vivenciar com mais intensidade medos, angústias,
tristezas.
O medo da
recidiva aparece muito forte nesses momentos e é importante ajudá-lo a retomar
a sua rotina anterior, agora já que transformada. Digo “agora já transformada”,
porque muitas vezes, ao longo do tratamento, os pacientes vivenciam mudanças
substanciais no modo de perceber seu próprio cotidiano, suas relações, seu
trabalho.
Ainda que
seja bom o prognóstico – e em muitos casos é -, uma situação que aparece como
ameaça à vida, inevitavelmente, faz repensar os modos de viver: “o que me
produzirá vida(?), o que me produzirá saúde(?)”. Quando digo isso obviamente
não ignoro que muitas realidades de vida são adoecedoras e que não dependem
apenas de mudanças individuais, mas existe um trabalho possível de pequenas,
mas fundamentais mudanças de atitude e de olhar que permitem que a vida insista.
Independentemente, de por quanto tempo.
5- A
senhora poderia falar sobre se dá o atendimento aos familiares?
O atendimento ao familiar, assim como ao paciente oncológico, parte da demanda
e as demandas são diversas. Muitas vezes ele aparece, sim, como o alicerce da
pessoa com câncer falou. O principal cuidador. E com isso pode vir sensação de
impotência, medo, estresse, culpa, bem como, por vezes, um descuido de si
mesmo. É nesse sentido que a escuta se faz importante, para que esse familiar
não adoeça. O câncer aparece como ameaça à vida e falar sobre a morte muitas
vezes é algo inevitável e importante.
No
entanto, isso não deve levar à mortificação, nem dos pacientes nem dos
familiares. Por isso o espaço psicoterapêutico aparece, tanto para os pacientes
como para seus familiares, como um espaço seguro para falar dessas angústias e
encontrar modos de produzir vida em meio à situação de adoecimento. Um doença
grave afeta toda a família e cada um encontra seus modos de lidar. O importante
é não silenciar nem os sentimentos mais tristes, nem os mais alegres, pois
todos encontram espaço nesse processo.
E, sim,
há casos em que os familiares ficam mais abalados do que os próprios pacientes,
por isso o cuidado é importante para todos. Cuidado esse não apenas do
psicólogo, mas de toda a equipe acima apresentada. Como falei, nem sempre o
apoio se dá dentro do consultório: muitas vezes é na sala de quimioterapia,
juntamente à equipe de enfermagem, apoiando pacientes e acompanhantes.
6- Como a
senhora vê o seu papel enquanto psicóloga atuante nesta área?
Penso que meu papel, como psicóloga, é estar
disponível para a escuta: seja ela breve, com poucas sessões; com maior
frequência; no momento inicial, ao longo do tratamento ou ao final. Para
celebrar alegrias e vitórias ou para acolher angústias, medos, tristezas.
E é
também escutar a equipe, dialogar com os profissionais de outras áreas, para
conduzir o tratamento pensando o paciente de forma integral. Por isso muitas
vezes realizamos palestras e rodas de conversas com temas das diversas áreas.
Serviços:
Telefone: (21) 982008545
Instagram: @edyclaudiapsi
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